quarta-feira, 10 de março de 2010

Das Cotas, a nossa "cota" de discussão.


Caros leitores (Dogmáticos Anônimos ou não...!)

Após um período de hibernação intelectual e física, retornamos aos costumes!

O nosso pequeno espaço de discussão volta a ser atualizado e, como não poderia deixar de ser, volta provocando o nosso lado “Dogmático Anônimo”, com o principal tema que gravita na pauta comunicacional do Brasil: a “legitimidade-legalidade-cientificidade-moralidade-eficiência...” do(s) sistema(s) de cotas baseado na distinção racial.

Como todo tema relevante, não pode ser tratado como fomento argumentativo para uma única postagem no blog. Portanto, sugiro apenas abrirmos os trabalhos com o vídeo abaixo, que selecionei no youtube:


http://www.youtube.com/watch?v=pbc2gtgtNGU&feature=PlayList&p=B59397AF0F9FB7B6&index=0&playnext=1


Observei como relevante o vídeo a partir de um critério mais sociológico, no sentido de ele fornecer um “start” para a complexidade do tema. Temos três falas nele, que pautam a sua argumentação em sentidos diferentes.


A primeira é de uma advogada, que “produz” a sua comunicação tentando acentuar programações jurídicas, ou seja, privilegia uma leitura do tema tentando se trajar sob o aspecto de uma operacionalidade do sentido jurídico (não estou dizendo que a fala dela é a única possível a partir do sistema jurídico, nem que eu concordo ou não concordo com ela, apenas ressalto que, sociologicamente, a sua produção de sentido busca privilegiar o campo jurídico como distinção para poder observar.)


Num segundo momento, ocorre a fala do Senador Paim, que por motivos óbvios, observa o tema como fartas referências políticas, apoiando-se em estruturas de sentido conectadas mais com o apelo popular, com ferramentas típicas da dominação do campo político. E possível identificar na fala dele diversas universalizações e reduções de complexidade do tema para, principalmente, poder conferir através de um consenso artificial (artificial num sentido de suposto) a institucionalidade necessária para ocorrência uma tomada de decisão.


E, por último, a fala de um cientista, que posiciona o seu ângulo de construção do tema com a tradicional pretensão informativa/descritiva da ciência.


Ou seja, lembrando um pouco do Capra (vulgo “Paulo Coelho” da Teoria dos Sistemas) em Ponto de Mutação, iniciamos a discussão com três formas de observar a questão...

Abs

Guilherme de Azevedo – Dogmático Anônimo

5 comentários:

  1. Primeiramente parabenizo pelo trabalho realizado trazendo 'a lume questao hodiernas e relevantes.
    Sobre as cotas para negros... ao meu ver, o intuito de questoes culturais e historicas deve ser sanado na propria raiz da educação, que inúmeras vezes se mostrou insuficiente. Deve-se sim vedar a discriminação. Havendo qualificação, diante de um negro e branco nao deve haver distinções. Todavia acredito que todo o objetivo poderia ser validado por politicas de incentivo desde niveis de acesso primários: incentivo 'a boa educação a todos. O conhecimento é base para se alcançar todo nosso objetivo.
    Ainda assim verifica-se a falta de qualquer regulamentação acerca da classificacao em negros, pardos, brancos, amarelos etc; sendo mera consequencia de definicoes pessoais e por conseguinte critério injusto. Já tomei conhecimento de gemeos no qual para um a instituiçao assegurou a reserva de cotas enquanto para outro foi vedado. Por tudo isso, nao considero a reserva de cotas como meio eficaz.

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  2. Com certeza Wana, o aplicação do sistema de cotas, entre ele o racial, exige um amplo debate principalmente no que diz respeito à sua operacionalidade e a questão do "autoreconhecimento". Agradecimentos a tua participação e os elogios. Guilherme de Azevedo -DA.

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  3. O texto do Guilherme mostra uma coisa que eu acho muito importante. Existem vários discursos diferentes que são igualmente possíveis sobre um mesmo assuno. Isso (só isso) coloca em apuros tanto a proposta procedimentalista (Habermas, Klaus Gunther, Alexy etc.) quanto a substancialista (Dworkin) de se fundamentar racionalmente ou convincentemente uma decisão jurídica. Não é possível nem um consenso, tampouco uma justificação convicente baseada em uma "policial morality". Pois as racionalidades desses discursos são diferentes, são autônomas e são também reciprocamente contingentes entre si. Uma tentativa interessante de estabelcer uma mediação entre discursos diferentes como esses foi a de Gunther Teubner. Mas sempre fica a questão de Luhmann: a comunicação produz tanto o consenso quanto o dissenso, exatamente para ela poder continuar a produzir a si mesma, exatamente para a comunicação poder produzir mais comunicação (autopoiese).

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  4. É curioso que o erro ainda continua, são um bando de branquelos que decidem o futuro dos negros. Como já disse a um amigo: "acredito que é uma medida correta," as cotas para negros, " mas desde que seja de caráter temporário. instituir a desigualdade no passado pelo uso da força e chegar num certo momento e falar aos submissos que eles são livres e podem concorrer com os ex-senhores é fácil, é o que chamamos de igualdade formal, o mesmo caso ocorreu na França. mas para efetivarmos a igualdade material temos que tomar medidas diferenciadoras, e uma delas é a cota para negros. como a máxima: A verdadeira igualdade consiste em tratar-se igualmente os iguais e desigualmente os desiguais a medida em que se desigualem."

    O Brasil é um país racista, precisamos assumir nossos erros para podermos saná-los. Moro numa cidade do interior numa região carente, tenho amigos negros e sei que existe racismo por parte das pessoas, você percebe só pelo olhar delas.

    Nesta audiência cadê os negros???

    Tem um documentário interessante da UNB sobre cotas, é interessante observar o mesmo erro. Há uma cena em que está sendo lançado um livro, que diz sobre as cotas, de um maluco que se diz algo, e o curioso é que não existem negros nas cadeiras dos que discutem, e quando um negro da platéia pretende se manifestar, o autor do livro diz que o negro está sendo grosseiro e etc. e ainda nos dizem que vivemos num Brasil que não é racista!? Depois que vi esta cena fiquei muito triste por pessoas que assumem a cadeira de doutores/educadores/lançadores-de-livros/etc tomem esta posição.

    há também este artigo do Willian douglas que é interessante: http://educacionista.ning.com/profiles/blogs/as-cotas-para-negros-por-que

    Mas é isso, meu tempo já era, fui...

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  5. Na questão das cotas, independente das questões históricas, a educação deve ser um direito de todos. Não se trata somente de educação, mas viabilizar um processo educacional como um todo. Emprego, moradia, saúde, disfunção da família...e muito mais, são variáveis que não podem ser esquecidas no processo. Assim como uma remuneração decente para o professor que precisa ter condições de frequentar cinema, teatro, comprar livros, fazer cursos...(aliás, acesso a cultura para todos) para se manter atualizado. Mas com a remuneração atual, e sem aumentos significativos, resta aos professores, pagar contas, sobreviver e contar os dias para aposentadoria e suportar a sala de aula. Ou como acontece em muitos casos, ficam estudando para concursosm, fazendo outros cursos ou procurando ser empreendedores para completar a renda ao invés de uma dedicação maior à educação.
    Daniel Reis Teixeira (Biólogo e Acadêmico de Direito)

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